Estilos do BJCP classificados por história - Wheat Beer: Dunkles Weissbier

Buenas! Seguimos os estudos dos estilos do BJCP. Se ainda lembram, tínhamos começado o estudo da categoria “Wheat Beer”, ou seja, cervejas de trigo. A categoria contém as "Weissbier", as "Dunkles Weissbier", as "Weizenbock", as "Witbier" e as "American Wheat Beer". Já falamos sobre as "Weissbier" nesse POST e hoje vamos falar sobre a sua irmã mais escura, a "Dunkles Weissbier". A palavra "Dunkles" em alemão quer dizer mesmo escuro, por isso é tão simples quanto isso, uma "Weissbier" escura. Sem entrar em muitos detalhes, antigamente quase todas as cervejas eram mais escuras. Tinha a ver com o processo de malteação empregado na época, que sempre acabava por adicionar cor aos grãos e consequentemente ao produto final, a cerveja. Sendo assim, a "Dunkles Weissbier" é como se fosse a irmã mais velha da "Weissbier". Quando a popularidade das "Weissbier", que são claras, começou a subir (por volta de 1960), esse tipo de cerveja ficou como se fosse a bebida dos mais velhos, daqueles que se mantiveram fiéis a tradição das cervejas mais escuras. 

E quando os grãos ganham cor, geralmente ganham notas de casca de pão assado ou tostado, e até de caramelo, e essas características também vão estar presente nesse estilo. Mas quando falamos de "Weissbier", temos sempre a utilização da levedura "weizen" que deve contribuir com aquele perfil frutado de banana e um toque de cravo/cravinho condimentado. Assim, as "Dunkles Weissbier" são cervejas que trazem essa característica de banana e cravo, mas com um aporte de malte mais rico e complexo, tornando as talvez um pouco menos leves e refrescantes quando comparadas as "Weissbier". Para essa sessão tive a oportunidade de avaliar duas cervejas: "Weihenstephaner Hefeweissbier Dunkel” e  “Ayinger Urweisse”. Pelo próprio alcance da marca "Weihenstephaner" lembro de já ter bebido essa cerveja algumas vezes. E mesmo recentemente tinha bebido ela por engano em uma atividade do curso da WSET. O "dunkel" (que também quer dizer escuro em alemão) ali no meio me fez pensar que essa cerveja seria uma "Munich Dunkel", um estilo completamente diferente que nem sequer usa trigo na receita. Enfim, erros de principiante que me ensinaram logo a diferenciar alguns estilos alemães. Mas vamos ao que interessa, a avaliação das cervejas.

Começando pela "Weihenstephaner", foi uma cerveja que apresentou uma coloração âmbar escura, um colarinho cremoso e quase branco com boa formação e media retenção. Ela também apresenta uma certa turbidez, mas que é menos aparente dada a sua coloração mais escura. O BJCP descreve esse estilo com uma cor cobre clara a marrom mogno escuro, portanto ela se adequa perfeitamente ao proposto. Ainda, o BJCP também refere que a turbidez é comum devido a levedura e ao trigo presente na receita. O único ponto na aparência seria o colarinho que é descrito como duradouro, e que nessa amostra não esteve assim tão duradouro. No aroma a cerveja apresentou o malte em primeiro plano com notas mais adocicadas de caramelo e algo como ameixa seca de média intensidade. E um frutado de banana aparece em segundo plano com intensidade menor. O BJCP descreve a presença de ésteres de banana, o fenólico do cravo/cravinho em equilíbrio com o malte. Sendo assim, é uma amostra que apresenta falhas de estilo. Talvez seja um efeito de envelhecimento, mas realmente nota se muito mais o malte do que a levedura no aroma, o que pode ser um sinal de oxidação.

Na boca, o sabor é muito semelhante ao que encontramos no aroma, o dulçor do malte prevalece e o frutado da banana aparece apenas em segundo plano. Além disso, há um retrogosto de caramelo que acaba por tornar o final de boca um pouco enjoativo. No sabor, o BJCP até descreve que a intensidade de sabor de malte pode suprimir a detecção do cravo/cravinho, mas ainda assim a cerveja deve ser equilibrada (banana, cravo, malte) e ter um final mais seco. Definitivamente não é o que encontramos aqui. Na sensação de boca, a cerveja tinha um corpo médio como pede o estilo. A alta carbonatação entrega uma certa efervescência na língua, e a cerveja apresenta uma cremosidade agradável. Esses parâmetros estão dentro do proposto para o estilo. Porém, a impressão geral dessa cerveja é um pouco decepcionante. Falta uma certa vitalidade do caráter da levedura que contribui muito para o equilíbrio do estilo. Degustei essa cerveja no início de Dezembro, e faltava pouco mais de um mês para atingir o prazo de validade. Faz bastante sentido que já tenha perdido muito do frescor da levedura, e evoluído para notas mais doces de caramelo típicas de oxidação. Ainda, apresentava uma boa quantidade de resíduo no fundo da garrafa (levedura) que não voltou a se homogeneizar na cerveja mesmo depois de uma certa agitação, como pede o serviço de uma cerveja de trigo.

Dunkles Weissbier

Passando a "Ayinger", podemos ver na foto que a coloração é um pouco mais clara, algo como um dourado intenso ou amarelo escuro, talvez até um pouco abaixo do preconizado pelo BJCP. Porém, o colarinho teve uma formação alta, cremosa e duradoura como pede o estilo. No aroma, os ésteres frutados de banana e o fenólico do cravo/cravinho evidenciava o caráter da levedura, em intensidade média. Um leve dulçor de malte trazia notas de caramelo e frutos secos em segundo plano, em grande harmonia com o perfil da levedura. Reflete com bastante exatidão a descrição de estilo do BJCP. Não se percebe nada do lúpulo, mas é um item considerado opcional nesse estilo. Na boca, a expressão dos ésteres de banana era um pouco mais intensa que o fenólico do cravo. A complexidade do dulçor do malte, em segundo plano, jogava bem com o frutado da banana, lembrando assim frutos secos como ameixa ou passas e dando um grande equilíbrio para a cerveja. Ainda, o amargor era muito baixo e o final seco e bem definido. Novamente, vai ao encontro com o descrito no BJCP para esse estilo. 

Na sensação de boca, percebemos um corpo entre leve a médio, e óbvio, a alta carbonatação. Uma característica marcante desse estilo, que entrega uma efervescência e frescor na língua contribuindo para a "drinkability" e a leveza da cerveja. Resumindo, é uma cerveja que deixa uma impressão geral exuberante. Talvez eles tenham escolhido por ser menos ousados na complexidade de malte (menos cor, intensidade mais baixa de aroma e sabor), mas definitivamente valeu a pena. A levedura entregou toda a vitalidade necessária para o equilíbrio desse estilo, e o malte apenas deu base para que ela brilhasse. Temos sempre que lembrar que não podemos querer que as cervejas se adaptem ao BJCP. Especialmente em estilos históricos como esse, as cervejas existem muito antes do BJCP ser criado, e o que o BJCP tenta é descrever as características mais frequentes nesses estilos. Logo, uma coloração talvez um pouco abaixo do descrito no BJCP diz pouco quando temos uma apresentação de aromas, sabores e sensação de boca tão fiéis ao estilo.

Comparando com a "Weihenstephaner" é impossível não pensar no frescor das duas amostras. Uma das coisas que gosto na Ayinger é que estampa no rótulo a data de envaze. Nesse caso, a cerveja que bebi tinha sido envasada em Julho desse ano. Assim sendo, já tinha estado cerca de cinco meses armazenada, longe de ser uma amostra fresca, mas ainda assim distante do prazo de validade que marcava Maio de 2025. Se pensarmos numa lógica semelhante, a "Weihenstephaner" deve ter sido envasada há quase um ano e por isso pode ter perdido muitos dos seus atributos. Logo vou fazer um post sobre o quanto a validade da cerveja diz pouco sobre a vitalidade da cerveja, e sendo assim o quanto pode ser vantajoso bebermos cerveja num contexto geográfico mais próximo.  

Concluindo, essa foi a nossa sessão de avaliação das "Dunkles Weissbier". A "Weihenstephaner" estava claramente prejudicada pelos efeitos do tempo, mas ainda assim longe ser uma cerveja ruim. Já Ayinger trouxe um perfil sensorial muito semelhante ao descrito no guia de estilos do BJCP e um prazer de beber memorável. Melhor de tudo é que depois de terminar a avaliação descobri que havia as quartas de final da Taça da Alemanha e pude terminar de beber essas garrafas assistindo a um bom jogo de futebol entre Bayern de Munique e Bayer Leverkusen. Futebol é com certeza um dos meus pretextos preferidos para beber cerveja, mas nesse caso foi ao contrário. Com clássicos alemães no copo e na televisão, foi uma noite muito bem passada. Assim que conseguir, publicarei então a continuação desses estudos com o estilo "Weizenbock". Fiquem bem, um abraço!    

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