Beba local! Eu faço e posso provar!

Bom 2025! É, o beba local pode até parecer clichê, e às vezes falamos muito e fazemos pouco. Mas vim aqui dar uma perspectiva de consumidor e elencar algumas razões que me fazem aderir a essa ideia, e claro mostrar que eu realmente o faço! Beba local ou beba localmente pode ser aplicado a qualquer ramo da indústria de bebidas, bem como a promoção de um consumo local poderia ser extrapolado para todos os ramos e indústrias. Trata-se de fugirmos das grandes marcas e de seus conglomerados de empresas e optarmos por marcas menores, de preferência da nossa comunidade local. Não é de hoje que as grandes marcas seduzem com publicidades milionárias na televisão, com patrocínio às nossas modalidades de esportes preferidas, e claro, com a aquisição de marcas menores que podem acrescentar valor ao seu portfolio. É o que? Isso não era sobre cerveja? Pois é, na indústria cervejeira não é diferente, e já destaquei aqui a história da Anheuser-Busch, e como ela surgiu com a Budweiser. O que não contei naquela oportunidade é que ela hoje faz parte do grupo Anheuser-Busch InBev, a maior cervejaria DO MUNDO! (controla cerca de 20% do mercado cervejeiro com marcas como Bud, Corona, Stella Artois, Brahma, entre outras). Então é errado consumir essas marcas? Eu não disse isso, e se formos discutir teorias socioeconômicas ficamos aqui o resto da vida e não chegamos a qualquer conclusão. O que eu gostava hoje era de falar sobre algumas razões que me fazem maioritariamente evitar marcas internacionais e consumir cerveja produzida o mais próxima de mim possível.

Como vocês sabem, eu ando estudando para ser juiz do BJCP. Nesse percurso, ando explorando os exemplos comerciais descritos no guia como referência de cada estilo. Claro, praticamente todos os exemplos comerciais são marcas de renome internacional. E tem acontecido com uma certa frequência, de me deparar com amostras que não condizem com o estilo. A principal razão é a perda dos atributos sensoriais que lhe davam o status de exemplo comercial daquele estilo. Cerveja é feita para ser consumida. Processos como a pasteurização aumentam a estabilidade do produto e consequentemente o seu prazo de validade. Mas isso tem um preço. Ou seja, compramos aquele rótulo famoso e que ainda tem 6 meses de validade, e mesmo assim corremos o risco de experimentar algo que não condiz com o que sai das torneiras da fábrica. Estar dentro da validade mais indica que não te faz nenhum mal do que te garante a vitalidade e o sabor da cerveja na garrafa. Nas Lagers de Supermercado pode nem fazer grande diferença, afinal não há grande sabores e aromas. Embora o cheiro de gambá, fede-fede/fedelho das Lagers de garrafas verdes seja considerado sim um problema de armazenamento que muita gente adora. Mas, em outros casos a decepção é grande! Nesses últimos meses, me aconteceu em estilos como "Doppelbock", "Dunkles Bock", "Weissbier", "Strong Biter" e por aí vai. Todos dentro do suposto prazo de validade. Sendo assim, beber local, também é beber um produto fresco, que não sofreu muito com transportes e armazenamento, e que vai entregar todo o sabor e aroma prometido. Dito isso, não vejo a hora de concluir os meus estudos do BJCP, e poder voltar ao meu consumo mais sazonal e local possível. 

Ah para… falar até papagaio fala. Então vamos aos fatos, e trago novamente aqui o nosso querido Untappd. Como prometido, chegou o momento de compartilhar a retrospectiva cervejeira de 2024 que o Untappd nos oferece. Dentre as marcas que mais consumi, quatro delas são gregas. Me mudei para a Grécia em Maio desse ano, e acessei aos dados do Untappd na primeira semana de Dezembro. Sendo assim, os 5 ou 6 meses do ano foram suficientes para as marcas locais gregas saltarem para o topo do meu consumo. O melhor disso tudo, de beber local, é passar a ser reconhecido como cliente fiel e conhecer as pessoas apaixonadas que nos colocam a cerveja no copo (e eventualmente ganhar uma cerveja por conta de casa, claro! haha). É impossível não voltar. Como foi o caso da "3 Brothers Brew", a marca que eu mais consumi em 2024. O pôr do sol no "beer garden" deles em Epanomi já vale a visita, mas as cervejas e o atendimento familiar fazem ser realmente imperdível. Outras curiosidades do relatório do Untappd: O estilo que mais bebi foi "Hazy IPA"; O dia da semana que mais bebi foi a Quinta-feira, afinal ninguém tem paciência de esperar pela Sexta, né? Bebi 144 cervejas diferentes de 103 marcas diferentes. É, me parece que foi um bom ano.

Mas voltando ao assunto, agora com a chegada da época festiva, me adiantei, e da Grécia encomendei cervejas para serem entregues nos meus sogros em Portugal. Encomendei da Barona, que para mim é uma referência no mercado Português. E ao mesmo tempo, encomendei de um site espanhol algumas cervejas que são exemplos do BJCP, e que eu não vinha encontrando na Grécia. Quando cheguei em Portugal já tinha uma boa dose para me divertir! E aqui ficou claro também o efeito do beba local. Enquanto as garrafas da Barona tem um prazo de validade que vai até Outubro, Novembro de 2026. As outras marcas internacionais já tem validade só até Fevereiro, Março, Abril de 2025. Quer dizer, vou beber cervejas da Barona que foram produzidas/envasadas 1, 2 meses atrás mas também vou beber essas que talvez já estiveram quase 10 meses armazenadas. Vamos cruzar os dedos e torcer para que elas não estejam assim tão más. E no fundo, a culpa não é das marcas em si. Elas fazem e tratam o seu produto com o maior cuidado. Mas, uma vez entregues na mão das transportadoras e do distribuidor, pode ter exposição a altas temperaturas, pode ter excesso de exposição à luz, podem ter inúmeras razões que contribuam para uma perda sensorial significativa da cerveja.

Sendo assim, beba local! Se vocês realmente gostam de sabor, vocês tem que dar prioridade a consumir cerveja fresca (frescor de vida, não de temperatura), o mais perto da data de produção possível. Os estilos mais maltados talvez sejam os que sofrem menos. Mas estilos lupulados e estilos onde a levedura contribui muito para o sensorial, sofrem bastante com os efeitos do tempo. Podem ter compostos voláteis que se perdem facilmente com o tempo e/ou compostos delicados que sofrem reações de oxidação e alteram o seu sabor e aroma. Claro que existem estilos que envelhecem bem, mas a grande maioria é feito para ser consumido fresco, de preferência diretamente da torneira. Por fim, armazenar as cervejas na geladeira/frigorífico também auxilia a preservar o melhor do seus atributos sensoriais. E assim abrimos o ano, espero que vocês continuem por aqui, e que 2025 nos traga alegrias e razões suficientes para brindar, de preferência com boa cerveja! Vai ser um ano de muitas BrewVentures e vocês vão ser sempre os primeiros a saber de tudo! Bom ano!      

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Estilos do BJCP classificados por história - Wheat Beer: Dunkles Weissbier