Estilos do BJCP classificados por história: Pilsner - German Pils & Leichtbier
Voltando aos estudos, hoje vou continuar a caracterização dos estilos que pertencem a categoria Pilsner. Para completar a lista, temos as “German Pils” e as “German Leichtbier”. Infelizmente, não encontrei nenhuma amostra de “German Leichtbier” por aqui, então vou só desenvolver a parte teórica do BJCP e outras fontes que costumo usar no final. No caso das “German Pils”, avaliei uma Jever Pilsener. E fiz isso duas vezes na verdade. Primeiro, em paralelo com a Pislner Urquell, em uma atividade do curso da WSET. E segundo, comparando com outras Pale Lagers alemãs, nomeadamente uma Ayinger Lager Hell (Munich Helles) e uma DAB Export (German Helles Exportbier). Eventualmente posso fazer uma publicação sobre essa comparação no futuro. Historicamente, não é dificil perceber porque os Alemães também decidiram investir nesse estilo. O que se sabe é que a Pilsner Urquell foi um sucesso, e obviamente, como vizinhos, os alemães e toda a sua malha industrial cervejeira não iriam ficar de fora. Porém, se vocês ainda lembram, a Pilsner Urquell surgiu em 1842, e as primeiras German Pils parecem ter surgido apenas em 1870. Desde lá, algumas coisas mudaram como uma diminuição no amargor das “German Pils” recentes em comparação com as mais antigas (ou será um conhecimento maior das técnicas de lupulagem?🫠 ). A interpretação alemã difere em pequenos detalhes em termos de processo, mas muito da sua característica está mais evidente no perfil de lúpulo, uma vez que os alemães passaram a usar os seus lúpulos tradicionais e não o Saaz Tcheco/Checo. E claro, a Alemanhã é um país maior e sua geografia também propicia uma maior variedade de interpretações. As German Pils produzidas no sul da Alemanha costumam ter um lúpulo mais aromático, enquanto a Norte o lúpulo se manifesta mais no amargor. Isso tem muito a ver com a água, mas não é hoje que vamos aprofundar a esse nível, não fujam! Em termos de malte, o perfil é mais leve, com decocção simples ou sem, e remete mais a massa de pão e mel e não tem um caráter tão complexo quanto as Tchecas/Checas. O BJCP também comenta que a denominação Pils veio para diferenciar da cerveja Pilsener, e dizem até por uma questão de respeito. Vamos lá descrever aparência, aroma e sabor da Jever e depois passamos a “German Leichtbier”.
No aroma, o BJCP fala em aroma de flores, condimentado/especiarias ou herbal de moderado a moderado-alto para o lúpulo. Malte médio para baixo, remetendo a grãos, dulçor ou massa de pão, frequentemente com um leve notas de mel e bolacha água e sal. O lúpulo tende a prevalecer mas não dominar o equilíbrio em relação ao malte. E uma fermentação limpa de Lager. Então vamos a Jever, e só para constar, ela é do Norte da Alemanha (lúpulo tende a ter mais amargor, menos aroma). O aroma do malte trouxe realmente massa de pão e notas de mel e estava em segundo plano, médio para baixo em intesnidade. No que diz respeito ao lúpulo, se apresentou em intensidade moderada, e era floral/herbal, bastante refrescante. Lembrou uma coisas mais gramínea, quase mentolado. Sendo assim, no aroma, tudo estava enquadrado com as recomendações do BJCP.
Na aparência, o guia fala em amarelo palha a profundo, brilhante e muito límpida. Espuma branca cremosa e de longa duração. O exemplar que avaliei também tinha quase todos esses atributos, apenas a espuma que teve uma retenção média e não longa, mas sinceramente, não pareceu influenciar os outros atributos da cerveja. No sabor, o BJCP descreve um sabor inicial de malte que é rapidamente sobreposto pelo amargor do lúpulo, com um final seco e bem definido. Intensidade de sabor e descritores de sabor semelhantes ao aroma. Amargor médio para alto, persistente no retrogosto com um toque de malte e lúpulo. O guia fala na mineralidade da água podendo acentuar e prolongar o final seco e que o caráter do malte e do lúpulo deve diminuir com o tempo. Independentemente, o equilíbrio tende sempre para o amargor. E realmente, a Jever apresenta um dulçor que lembra mel, assim como no aroma, mas o amargor é predominante. Temos todos sensibilidades diferentes ao amargor, e para mim, essa amostra estava mesmo no limite entre agradável e desagradável na primeira prova. Já na segunda, achei o amargor mais agradável. O amargor era entre herbal e herbáceo, trazendo notas de menta, grama e rúcula. O retrogosto bem marcado, onde sinceramente o malte desaparecia. Ainda assim, cada vez que bebia um novo gole, o dulçor logo entrava e um bom equilíbrio era atingido. Quando avaliei lado a lado com a Pilsner Urquell, as diferenças eram bem nítidas, especialmente nesse final seco e puxado para o lúpulo da “German Pils” comparado com o final redondo e equilíbrio malte/lúpulo da “Czech Premium Pale Lager”. Novamente, vamos pular as avaliações de sensação de boca e impressão geral.
Passamos então a “German Leichtbier”. Leicht em alemão quer dizer leve. E para quem acha que os alemães só gostam de cervejas fortes e copos de 1 litro, essas cervejas mais leves (teor alcoolico entre 2,4% - 3,6%) foram introduzidas no mercado a primeira vez por volta de 1965. O apelo parece ter sido um aumento significativo nas multas de trânsito associados ao álcool, embora sempre houvesse também uma publicidade como cerveja para dietas com menos calorias e carboidratos. Também podia ser chamada como cerveja de almoço, e os trabalhadores das fábricas e do campo podiam aproveitar uma cerveja que não prejudicaria o seu desempenho no trabalho. Porém, depois de uma primeira entrada no mercado em 1965, outra tentativa em 1980, elas acabaram por perder muito espaço de mercado. Só recentemente é que com a tendência de consumo consciente e saudável elas voltaram a dar as caras. Infelizmente, muito da característica mais alemã foi deixada de lado e elas acabam por se assemelhar mais aos produtos americanos como as “American Light Lagers”(falaremos sobre elas na próxima sessão de estudos).
Segundo o BJCP, no aroma elas podem apresentar lúpulo de baixa ou média intensidade. Mantem as características de lúpulos alemães herbal, floral ou condimentado. O malte se apresenta de baixo a médio baixo com um toque adocicado de cereais ou um pouco como bolacha águal e sal. Na aparência, elas devem estar entre o amarelo palha claro e um amarelo mais profundo. O colarinho branco é moderado com retenção média-baixa a média. No sabor, o adocicado de cereais deve ter baixa a média intensidade. O amargor do lúpulo é médio com as mesmas características do aroma. Um perfil de fermentação limpo com a maturação a frio bem feita e um final seco com retrogosto levemente maltado e lupulado. Como não avaliei uma amostra, convém ressaltar que o BJCP descreve que se assemelham a uma “German Pils” ou uma “Munich Helles” com menor teor alcoólico, menor corpo e menor agressividade. Ainda, na comparação com as “American Light Lager”, seriam cervejas mais saborosas e com um amargor mais evidente.
Assim, encerramos os estilos pertencentes a categoria Pilsner da classificação de estilos por história do BJCP. Nosso próximo passo é avaliar as “Mass Market Lagers”. Como já referi, são cervejas que comumente encontramos no supermercado e as cervejas mais consumidas no mundo hoje em dia. Por isso, vocês podem me acompanhar nesse processo. Os estilos que compõe essa categoria são as “American Lager”, as “International Pale Lager” e as “American Light Lager”. Se falarmos em marcas, a “American Lager” mais famosa é a Budweiser. E se falarmos em “International Pale Lager” temos a Heinekein e a Corona Extra como representantes. Essas eu garanto que vocês encontram em qualquer lugar. Aqui não encontrei nenhuma “American Light Lager” que seria uma Bud Light ou uma Coors Light. Mas fiquem a vontade, se encontrarem, de adicionar também essa a vossa degustação. Até a próxima!