“O significado da cerveja” de Jonny Garret

Olá pessoal. Depois de um pequeno hiato, acho que foi a primeira vez que não postei nada em um intervalo de mais de dez dias, estamos de volta. Peço desculpa por esse abandono mas temos algumas novidades para muito breve (já dei spoiler no Insta 🫣) que acabaram por dificultar a escrita do blog. Sem falar que já trabalhei em algumas postagens temáticas que devem ser postadas na sua data específica. E hoje vamos fazer uma coisa diferente, vamos ter aqui uma espécie de resenha literária. Pois é, tive alguns calafrios lembrando das aulas de Português que me atrasaram as férias do último ano do ensino médio/secundário, mas resolvi tentar desenvolver uma espécie de resenha. A resenha será do livro descrito no título "O significado da Cerveja" (original "The meaning of beer" publicado pela Alenn&Unwin em Novembro de 2024) escrito pelo querido Jonny Garrett.

Para quem não o conhece, ele é um dos grandes escritores do meio cervejeiro britânico, e é um dos apresentadores do canal do Youtube chamado "The Craft Beer Channel". Ele é um gênio para contar histórias, e o que torna suas histórias tão vivas é o fato de ele realmente ir aos lugares, falar com as pessoas, viver realmente a história intensamente antes de passar para o papel, ou para o vídeo como é o formato do canal. Para o meu deleite são histórias relacionadas a cerveja, e esse é o seu quarto livro, mas o primeiro que leio, e imagino só esteja disponível em inglês. O livro é fácil de ler para quem curte conhecer a parte mais histórica da cerveja, mas confesso que tive que procurar o significado de muitas palavras, já que ele abusa do seu amplo vocabulário britânico. E ainda bem, assim também aprendi algumas palavras novas. 

O livro basicamente tenta descrever a importância da cerveja para os mais diferentes aspectos da nossa vida. E quando digo a importância, é realmente ir em busca de fatos históricos onde a cerveja foi protagonista que acabaram por moldar nossa maneira de viver. Um dos exemplos mais fáceis são as geladeiras/frigoríficos. Foram de fato inventados pela indústria cervejeira, para facilitar a produção de cervejas Lagers que são fermentadas e maturadas em temperaturas mais baixas. Investimento feito para a cerveja e que hoje impacta diretamente no nosso dia-a-dia. Adorei a parte em que ele sugere que a próxima vez que alguém reclamar que tem muita cerveja na geladeira/frigorífico, devemos responder que as outras coisas é que estão ocupando muito espaço. Afinal, a geladeira/frigorifico foi feita para a cerveja! Isso também para ressaltar que o livro contém uma boa dose de humor misturada com as histórias, o que o torna ainda mais fácil de ler. Dessa forma, o livro conta sempre como diferentes fatos relacionados a cerveja moldaram a nossa civilização, cultura, entretenimento e etcs. Por fim, ele ainda tenta prever o que nos aguarda no futuro, e é bem cético quanto ao futuro da cerveja estar de certa forma embarcando em uma tendência de consumo sem álcool como toda a indústria de bebidas. 

O livro me fez refletir sobre assuntos bem interessantes, às vezes não de forma explicita na descrição de um capítulo, mas com vários pequenos trechos espalhados pelo livro. Um deles é o fato de as mulheres terem sido protagonistas na produção de cerveja ainda na Idade Média, e o quanto acabaram sendo afastadas desse meio ao longo dos anos. Seja pelo monopólio de monastérios/mosteiros e abadias que aconteceu antigamente em alguns países, ou pela própria publicidade e consequentemente o consumo que voltou-se muito para o público masculino no último século. No caso dos monastérios/mosteiros, acaba por se associar muito aos monges, mas a verdade é que sempre houveram as monjas e abadessas que auxiliavam no processo. E por ironia do destino, quando muitos afirmam que a indústria está de certa forma em estagnação, finalmente começamos a ver novamente as mulheres presentes nos "taprooms" e algum esforço sendo feito para alcança-las como consumidoras. Além disso, muitas delas hoje já se aventuram na produção, e são vistas como uma grande fonte de novas ideias para auxiliar a manter a indústria interessante. O livro suscita um pouco esse tipo de reflexões socias,  como também relata sobre o que teria sido a primeira publicidade com um casal de homens (da Guinness, ainda nos anos 90), e que acabou sendo barrada pelos acionistas e a ala mais conservadora da sociedade irlandesa. Infelizmente, mesmo hoje o mundo continua não estando preparado para isso, uma vez que recentemente assistimos a boicotes de marcas que fizeram ações de marketing semelhantes. Felizmente, o livro tenta trazer a noção contrária, e clamar pela diversidade nos pubs e bares, o que continua sendo em muitos lugares utópico. 

Mas ninguém é perfeito, e o autor cometeu uma pequena falha quando resolveu falar da Oktoberfest de Blumenau (tem até uma bandeira do Brasil na capa, podem ver). Como eu referi no início, o que faz das suas histórias fantásticas, é muito o fato de ele realmente as ter experienciado. Mas, ele nunca foi à Oktoberfest brasileira, então temos que dar um desconto. Não sei se as fontes em inglês são escassas, fato é que ele acabou se equivocando. Depois de descrever a experiência dele na Oktoberfest Alemã, ele dedica umas duas ou três páginas a contar ao mundo o curioso fato de haver uma Oktoberfest no Brasil (na verdade existem várias). Está tudo muito bem introduzido, inclusive referindo que a festa no Brasil foi criada para angariar fundos para a recuperação da região que havia sido gravemente afetada por enchentes. E que, desde então, virou uma tradição com mais de trinta anos de existência.

Porém, ele fala que o Brasil adicionou um certo tempero à mistura (ninguém dúvida), e diz que os pretzels na verdade são de canela e que a cerveja que se bebe é Brahma. Sinto muito querido Jonny, mas acho que tens que vir comigo ao Brasil para conhecer a diversidade de cervejas da festa, e provar as delícias gastronômicas da Vila Germânica. Eu até tolero a conversa dos pretzels de canela, mas dizer que só se bebe Brahma foi um pouco preguiçoso. É verdade que a Brahma já foi cerveja oficial da festa, mas é até dificil encontrar o último ano que isso aconteceu. Se perguntasse ao ChatGPT, até ele sabe que atualmente a cerveja oficial é a Spaten (pós-pandemia). Sim, a mesma Spaten da Oktoberfest de Munich. E mesmo antes da pandemia, desde 2015 a cerveja oficial era a Eisenbahn. Uma marca local que hoje já faz parte do Grupo Heineken Brazil, com rótulos premiados internacionalmente. Mas na festa de Blumenau, não existe um controle tão restrito, e diversas marcas locais participam do festival vendendo uma ampla variedade de estilos para além do tradicional "Festbier". Claro, isso são duas páginas em um livro que tem mais de trezentas, mas o meu eu brasileiro não conseguiu deixar passar desapercebido. 😂 Sorry Jonny! 

Por fim, esse foi o primeiro livro cervejeiro do ano, estou agora a procura de um próximo. Foi uma leitura muita divertida, e a riqueza na descrição das histórias e fatos relacionados a cerveja me deixava sempre com água na boca. Por isso, muitas das sessões de leitura foram finalizadas degustando alguma coisa que tinha na geladeira/frigorífico, e sendo assim, o livro cumpre na perfeição o seu objetivo de divulgar a cultura cervejeira. Ainda acho que temos que convencer o Jonny a ir a Oktoberfest de Blumenau, e dar a ele a oportunidade de se redimir com um vídeo no canal ou talvez algumas páginas em um próximo livro. Por hoje é tudo, até a próxima!  

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