Estilos do BJCP por história: Pilsner - Czech Pale Lager & Czech Premium Pale Lager

Hoje começamos o estudo mais específico dos estilos do BJCP. Conforme mencionei nesse post, vou tentar seguir o sistema de estilos classificados por história. Nessa classificação, o primeiro grupo de estilos é chamado Pilsner. E sim, existe uma certa confusão entre Pilsner e Lager, ou melhor um uso indiscriminado como se fossem a mesma coisa. De fato, todos os estilos dentro dessa categoria são Lagers. E isso é importante entender. Toda Pilsner é uma Lager, mas nem toda Lager é uma Pilsner. Como já descrevi em outro post, Lager é um tipo de fermentação utilizado em diversos estilos, inclusive nas cervejas Pilsner. Mas, além das Pilsners que vamos discutir agora, existe todo um arsenal de Lagers que ainda vamos discutir no futuro.

O estilo Pilsner foi criado na República Tcheca/Checa, mais precisamente na cidade de Pilsen. E cerveja Pilsner quer dizer exatamente cerveja produzida em Pilsen (Ah vah!?). Atribuem a criação do estilo a Josef Groll, um Alemão da Baviera, que foi recrutado para um projeto megalômano em Pilsen. Estamos falando de 1842, no que na altura era o Império Austríaco e logo depois se tornaria no Império Austro-Húngaro. Nessa época, a fermentação Lager já era utilizada principalmente na região vizinha da Baviera, embora as cervejas mais populares ainda tinham uma cor mais castanha/avermelhada. A cerveja de Pilsner foi a primeira cerveja clara daquela região. A população estava descontente com a qualidade da cerveja produzida, e dessa forma toda uma investigação da indústria cervejeira contemporânea foi feita para a construção da nova fábrica. Depois, a magia esteve nas mãos de Josef Groll, que graças as características da água local, a qualidade dos grãos de cevada e o caráter do malte Pilsen produzido na nova fábrica, o lúpulo Saaz produzido na mesma região e a levedura trazida da Alemanha, conseguiu chegar a um produto que influencia ainda hoje mais de 90% da cerveja produzida no mundo.

E o melhor de tudo é que esse produto continua sendo comercializado, a Pilsner Urquell. Na época, não houve grande movimentação para patentear a receita, e com o sucesso obtido, outras marcas começaram a produzir cerveja semelhante não só naquela região do mundo. Urquell em alemão (língua do Império) quer dizer fonte, origem e a denominação Pilsner Urquell surgiu para identificar a primeira ou a Pilsner Original! Já me alonguei muito na parte histórica, mas acho que merece por ser um estilo que realmente moldou a indústria cervejeira. Mas, vou parar por aqui e prometo contar mais alguns detalhes depois da visita a Pilsen na PRIMEIRA BREWVENTURE

Nessa categoria do BJCP temos 5 estilos de cerveja:

  • Czech Pale Lager;

  • Czech Premium Pale Lager;

  • German Pils

  • Historical Beer: Pre-prohibition Lager

  • German Leichtbier

Como tudo começou na República Tcheca/Checa, óbvio que são os primeiros representantes do estilo. As Czech Pale Lager são o estilo mais consumido no seu país de origem hoje em dia. Acredita-se que quando da criação da Pislner Urquell (uma Czech Premium Pale Lager), Josef Groll também tinha produzido uma cerveja um pouco mais fraca, semelhante as Czech Pale Lager. Ou seja, elas tem menos corpo, menos álcool e um perfil sensorial ligeiramente menos intenso que suas irmãs premium. Infelizmente, não encontrei nenhum exemplar para degustação por aqui, mas como são uma versão mais leve das Czech Premium Pale Lager, não é muito dificil transpor o conhecimento. Das Czech Premium Pale Lager encontrei 3 exemplares descritos como exemplos comerciais do BJCP: Primator Premium Lager, Radegast Ryze horká 12 e claro, nossa querida Pilsner Urquell. Para adicionar um pouco de entropia, ainda degustei a Budweiser Budvar, que embora não seja um exemplo comercial do BJCP, é outra Czech Lager conhecida e facilmente encontrada aqui onde eu vivo. Dessa forma, ela foi avaliada como as outras, ou seja, como uma Czech Premium Pale Lager. E aqui estão elas: 

Premium Czech Lager

E essa é a aparência de cada uma no copo, seguindo a mesma ordem.

Segundo o guia do BJCP, em termos de aparência elas devem ter cor amarelo médio a dourado intenso. Claridade brilhante a muito límpida. Colarinho branco, cremoso e denso de longa duração. Não vi nenhuma falha na aparência. Notamos logo, que a Budweiser Budvar destoa minimamente em termos de cor, sendo um pouco mais clara que as outras, mas a descrição do guia fala em amarelo médio o que eu consideraria apropriado. Isso pode dizer alguma coisa sobre a seleção de maltes, ou até, a utilização de adjuntos (outras fontes de açúcar que não o açúcar do malte). Mas, estamos falando de uma Lager Tcheca/Checa, e elas são famosas e orgulhosas dos seus 100% de malte Pilsen. O mais provável seria uma decocção mais limitada. A decocção é um processo onde durante a infusão do malte em água para obtenção dos seus açúcares (inicio do processo de fabricação da cerveja), uma parte do malte é passado para um outro recipiente onde a temperatura é mais alta e as famosas reações de Maillard acontecem, adicionando cor e sabor a cerveja. A maioria das Lagers Tchecas/Checas usa um protocolo de decocção dupla, enquanto a Pilsner Urquell usa desde sempre o seu protocolo de decocção tripla.

Passamos ao aroma, que segundo o BJCP, deve ser maltado rico médio para alto (aroma de pão), e entre médio para baixo e médio para alto de lúpulo floral, herbal ou picante/condimentado. Na Budweiser Budvar, o aroma de gambá (sim, o mesmo da Heinekein) atrapalhava a avaliação. Acabei por só perceber esse aroma e um pouco do lúpulo herbal. O aroma de gambá é uma falha conhecida e produzida pelo efeito da luz na cerveja, principalmente em garrafas verdes ou transparentes. Pode não ser uma característica da cerveja em si, mas sim da amostra que está na nossa frente, ou mais precisamente no nosso copo. No caso da Radegast, o aroma de pão e o lúpulo herbal estavam presentes mas em uma intensidade baixa para o estilo. Ainda, o perfil aromático do lúpulo também apresentava notas mais terrenas que não são típicas desse estilo. A Primator apresentou o aroma rico maltado de pão bem predominante, com o herbal/floral do lúpulo médio para baixo, o que se enquadra perfeitamente no estilo. No caso da Pilsner Urquell, já experimentei amostra mais intensas em aroma, faz parte. Ainda assim, uma complexidade maior no aroma maltado é observada nessa cerveja em comparação com as outras. Não à toa, uma vez que essa foi a cerveja que deu origem ao estilo.

Agora vamos ao sabor. Segundo BJCP, o malte se apresenta rico e complexo como pão combinando com um pronunciado amargor, ainda que suave e arredondado. Esse amargor com sabor de lúpulo floral e condimentado. E é aqui que a Pilsner Urquell dificultou a vida de todo mundo. O resultado que eles atingem é espetacular. É muito fácil o amargor ser pronunciado mas acabar por se tornar desegradável ao final de um copo. E eu gosto de dizer que o amargor da Pilsner Urquell enche a sala, deixa a gente realmente contente e pedindo mais um gole (isso já seria sensação de boca e a impressão geral da cerveja, desculpem haha). O malte também pode conter uma pequena impressão de caramelo, e o amargor nunca pode ser áspero. Basicamente, no que diz respeito a sabor, a amostra de Pilsner Urquell que degustei entregou tudo. Depois, a Primator foi a que mais se assemelhou no perfil de sabor, especialmente na parte do malte, embora o seu amargor não se apresentou pronunciado como o estilo pede. A Radegast apresentou um perfil de malte abaixo do expectável para o estilo, uma vez que o seu dulçor era pouco complexo e prejudicava ligeiramente o equilíbrio. Aqui, o amargor também se mostrou não pronunciado, mas bem agradável e floral/herbal. Por último, a Budweiser Budvar também apresentou um perfil de malte abaixo do expectável para o estilo. Novamente, o aroma de gambá prejudicou a experiência embora o amargor estivesse médio para alto e agradável. 

Segundo o BJCP ainda teríamos que avaliar sensação de boca e a impressão geral de beber a cerveja. Ainda não vou entrar nesses aspectos, pois gostava de primeiro fazer um post falando melhor sobre o que eles descrevem, aguardem! Assim, fechamos aqui a nossa avaliação das Czech Premium Pale Lager. Esse é dos poucos estilos em que temos o exemplo comercial que deu origem ao estilo para usarmos como referência, o que facilita bastante o processo. Outros comentários que faria é que a Budweiser Budvar lembra mais uma International Pale Lager do que uma Czech Premium Pale Lager. Tudo pode ter sido causado pelo aroma da gambá, e espero poder degustar uma amostra mais fiel ao que sai da fábrica em breve. Por fim, a Primator esteve mais perto do pedido pelo estilo do que a Radegast. Mas, só para ressaltar, nessas amostras degustadas! Temos que sempre considerar a possibilidade de perda de sabores e aromas causados pelo tempo. E por isso, temos que optar sempre por beber cervejas frescas! E não, não estou me referindo a temperatura, mas sim ao fator tempo. Cerveja é feita para ser consumida, não armazenada! Na próxima sessão vamos falar sobre as demais exemplares da categoria, as German Pils, as Pre-Prohibition Lager e as Leichtbier. Até a próxima!

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